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11 outubro 2010

Rotulados pela mídia

Veja só:

“Vieram me dizer: você saiu no jornal! Eu tomei um susto e pensei: o que eu fiz para aparecer no jornal? Ai, quando me trouxeram o papel com a minha foto, tomei outro susto! Era a minha imagem bem grande, sorrindo e cantando debaixo do viaduto. Eu saí muito bonito. Adorei!Só podia ser o Aurora da Rua mesmo!Obrigado!” (Aurora da Rua, agosto/setembro, nº 21)

O relato acima foi extraído do jornal Aurora da Rua, periódico que trata de questões das pessoas em situação de rua, sobretudo, da capital baiana.

O autor do texto é o morador Edmarcus.

O susto e a preocupação de Edmarcus não foram à toa, pois essa é a realidade de muitos jornais. Morador de rua, infelizmente, na maioria das vezes, só aparece em jornais quando comete algum delito, alguma infração ou quando está em situação de miséria – usando drogas, dormindo nas ruas, por exemplo. Eles passam a ter um lugar especial no periódico: matéria de capa, foto em destaque. A identidade desaparece e cede lugar para termos como traficante, bandido, ladrão, etc. Quando abre o jornal, lá está a matéria em página par e em um bom campo de visualização (na parte de cima da folha). Isso para dar destaque ao assunto.

Costumeiramente, eles aparecem assim:


ou


ou




etecétera. Indefesos, marginalizados, menosprezados, humilhados, marcados por um discurso - verbal ou imagético - que os fazem morrer perante os olhos de muitos. Dentro de cada um deles há uma vida inexplorada, capaz de mudar a sociedade.

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